outro dia outro ônibus

Cecilia Borges disse:

"Queria uma viagem assim pelo 175! Essas coisas não acontecem comigo... a trilha sempre é "Desculpe atrapalhar o silêncio da sua viagem, mas trago a Goiabinha que está de promoção, srs. passageiros...".

Como você, eu seria a platéia do Seo Antônio.

Bjo.

www.cecilia-borges.blogspot.com"

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cara Cecília,

antes de mais o resto, muito obrigado pela visita e pelo comentário. espero que não se aborreça se eu tomo a liberdade de citá-lo neste post. se o faço é pelo seguinte: você tem toda razão. não é todo ônibus, não é todo dia...

sabe, minha reação típica seria responder ao seu comentário argumentando que oh, mas depende de nós estar sempre com os ouvidos abertos, o artista deve conservar sua capacidade de se surpreender, não entendo como as pessoas podem preferir andar de carro, etc., etc.

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...MAS eis que, no dia seguinte, no mesmo trajeto (bom, não de todo: desta vez era a Barata Ribeiro mesmo, um 583 com muitos lugares vagos), a variedade da fauna humana sentada às minhas costas era beeem diferente. veja só o que ela me proporcionou ouvir:

entro no ônibus vazio. cato duas moedas num pote de filme, pego meu discman (filme de máquina? discman? totalmente vintage), meu livro...

- alô, fulana? (a menina atrás de mim atende o celular)

- caaara, eu tava pensando em você! eu fui pegar o celular pra ver se alguém tinha ligado, e aí tava tocando e aí era você! e aí? (e aí que ela era o cliché do cliché do sotaque carioca. e prosseguiu:)

- mas fulana, que saudade, tá sumida! mas me conta, tá sozinha, ou o fulano tá aí contigo? ahahahahahaha. então, porque eu tô voltando agora, eu tava lá na clínica, é, de cirurgia plástica. eu vou fazer a cirgurgia, né, a operação... pra botar os peitos! marquei pra dia tal. (eu lembro de um tempo em que fazer plástica era tabu. era segredo. imagino que agora deve haver quem minta que fez plástica, e não o inverso.)

- não, que nada! vou botar os peitos, cortar debaixo do braço pra tirar aquelas gordurinhas, tudo só três e quinhentos. (vou fazendo mentalmente um cálculo difuso que inclui variantes como o salário mínimo, minha própria conta bancária, o custo pra liberação de fonogramas, o custo de um almoço em Copa... essa parada de plástica estética é mesmo uma idéia genial em termos de criação de necessidades. ah, o Capital que circula. três mil e quinhentos reais. e ela sentada atrás de mim aqui no circular.)

- não, é no Leblon. ele é daqueles, ele te deixa super à vontade, sabe, pra falar das coisas.

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nesse momento fui eu quem ficou suuuper à vontade pra pôr os fones, apertar o play e mergulhar no livro.

pois é, Cecília: nem todo ônibus leva o Seo Antônio. acho melhor insistirmos no 175.


se não tem Seo Antônio
o jeito é cantar eu mesmo.
lalala.

Um comentário:

Cecília Borges disse...

Dimitri, acho até bom não termos Seo Antônio todo dia. São as raridades que costumam nos impressionar. Quando temos um artista enchendo de beleza nosso tedioso percurso, ganhamos o dia. Se encontrarmos o sujeito sempre, o encontro vai virar rotina e tédio. Temos que brindar às vezes! Termos a chance de esperarmos ansiosos pelo 175 premiado, não é? Enquanto isso, ficamos no play do discman ou nos divertimos com esses papos bobos.

Sim, sou mineira. Moro no Rio há apenas 2 anos. E fiquei muito feliz por você ter gostado do meu blog, mas infelizmente não fui eu quem desenhei!


Grande beijo!