termina na tônica

Brasil-Rio
2005-12-[7 para]8
3:29h

acabou o semestre letivo!

meu primeiro semestre letivo...

...na minha quarta faculdade.

mas sério, dá bem pra chamar de "primeiro", mesmo; afinal, pela primeira vez em dez anos eu termino um período de faculdade satisfeito, animado para o próximo, e com uma sensação boa.

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e o último dia foi muito legal: fui bem na prova de solfejo, e sem ter estudado isso especificamente há tempos (nas aulas na faculdade não fazemos isso, por ser muito individual, e com o Ivan eu estou há tempos fazendo praticamente só leitura rítmica).

acho que realmente melhorei ao longo do semstre, e passei com uma boa média - condizente com minha auto-avaliação.

ao final da prova (individual), a Adriana contornou a mesa pra vir me dar dois beijinhos, e dizer que tinha sido um prazer nos reencontrarmos depois de tanto tempo - isso porque ela me deu aula no TEPEM em 1997 (!), e me reconheceu na primeira aula agora, em 2005 (!!).

eu retribui o cumprimento e bem contente.

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...e ainda tem gente que diz que a Adriana é uma megera!? bem, quanto a mim, eu simpatizo muito com ela, além de achar seu método para dar aulas em turma (coisa difícil em geral, e talvez particularmente difícil em música) muito interessante.

ela toma notas muito pormenorizadas, e tem uma noção da situação de cada aluno realmente incomum. talvez isso explique ela se lembrar de um aluno de um semestre de TEPEM 10 anos depois (ainda que se chame Dimitri :)

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a galera um ou dois períodos na nossa frente (mas nossa conhecida, visto que vários deles fazem outras matérias conosco) criou uma comunidade no orkut sobre as aulas da Adriana. ainda não entrei, porque achei um tanto... dúbia; ainda que em tom de chiste, fala de um nervosismo que eu realmente não sinto, em relação às aulas.

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mas vale transcrever aqui um trecho de um post da comunidade, pra vocês terem uma idéia de parte do meu cotidiano na UNIRIO:

aluno 1 - Victor , si sustenido é a sensível do sétimo grau menor do homonimo maior que modulou para o segundo grau do relativo do terceiro. Qual a sua tônica???

aluno 2 - Essa pergunta é tão fácil que eu vou responder no lugar do Victor!

A tônica, obviamente, é Fá dobrado-sustenido com sétima e baixo em Ré bemol bequadro com sétima maior e décima terceira!!

Quando tiver uma pergunta mais difícil, pode falar que eu dou o GABARITO! hehehe

aluno 3 - Obviamente vocês estão redondamente enganados. Eu, um aluno de PEM II, terei que mostrar a vocês, alunos de PEMA I, todo meu conhecimento musical.

É fato que a tônica no caso é Lí bemol, que é enarmônico de Mu sustenido, este sendo homônimo de Jó dobrado bemol, relativo de Bá bequadro.

aluno 4 - Errado Jonas! A Tônica é a mulher do Biotônico Fontora, mas conhecido como Tônico.hahahahaahah.......essa foi ótima né? podem falar..........

aluno 5 - Boooooooa victor E mãe do TONIQUINHO

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huahuahua nerd é foda né. em qualquer área. arrisco-me a dizer que os da música são especialmente esquisitos.

[em tempo: para que nenhum desavisado (leigo) porventura se engane, esclareço que tudo o que foi dito no diálogo acima é uma completa baboseira :]

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depois da aula da Adriana, sentei-me numa escadinha sob as árvores, no bucólico campus da UNIRIO, e tratei de redigir as duas respostas que faltavam na prova de MIC (Música e Indústria Cultural).

enquanto estava lá ( pensando mais que escrevendo, como de hábito), algumas pessoas passavam e me cumprimentavam. percebi que estabeleci uma camaradagem com os colegas em geral, provavelmente só comparável à que consegui na USP - só que depois de uns dois anos lá, e isso considerando-se que já conhecia 5 ou6 pessoas ao entrar.

na verdade, hoje especificamente percebi que nossa apresentação na aula de OM (Oficina de Música, a da música experimental aí abaixo) deve ter influído, se não na nossa popularidade, ao menos para estimular as pessoas a romper o constrangimento social inicial.

[felizmente essa aula é a que tem mais alunos, de vários períodos e cursos, e não a de MBCR (Música Brasileira da Colônia à República), na qual fizemos um tenebroso arremedo de apresentação há algumas semanas... :]

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aliás, falando em camaradagem, se o ambiente geral da UNIRIO já é muito agradável (e dentre os vários elementos que contribuem para isso, não devemos desconsiderar a localização mais que privilegiada: um terreno arborizado e tranqüilo aos pés do Pão-de-Açúcar!), também com minhas relações mais imediatas - a turma que entrou comigo - eu dei sorte.

somos apenas oito pessoas (sim, o Bacharelado em MPB tem poucas vagas :) mas, apesar de consideravelmente diferentes uns dos outros - em índole, preferências, trajetórias de vida, nível acadêmicos/técnico, etc. - forjou-se entre nós uma dinâmica muito interessante, e um sentimento de turma, de apoio e incentivo mútuos, realmente entre todos.

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isso sem contar a amizade bem mais que incipiente que (tão cedo) desenvolvi com dois de meus colegas: Rogério e Flávia.

claro que não foi por acaso: após intuir afinidades num primeiro momento, logo descobrimos que tínhamos muito em comum - círculo de conhecimentos, coincidências de formação, etc.

[por exemplo, a melhor amiga do Rogério é a Bárbara - amiga da Julia Mourão com quem sempre simpatizei, e com quem convivi nos anos 90 (estive com ela na final do tetracampeonato, por exemplo :) ; ele estudava no Stokler (aliás, era daqueles repetentes que zoavam o Fernando, e conseguiu a proeza de ser expulso de lá :) ; e ele já morou 5 anos na Alemanha.

já a Flávia toca com o PP - cara gente boa que namorava uma amiga minha do teatro; estudava com a Christiane Pontes e o Márcio André (respectivamente uma paixão adolescente minha e seu irmão - ambos amigos meus do condomínio em Teresópolis); e ela morava no mesmo prédio do Rogério, embora em épocas diferentes... e por aí vai.]

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é realmente difícil, senão impossível, escaparmos da determinação de nosso histórico sócio-cultural.

isso não é necessariamente mau; mas acho importante que o constatemos.

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de qualquer modo, há muita gente com quem convivemos por longo tempo, com quem temos diversos pontos em comum, e no entanto não desenvolvemos nem mesmo uma relação superficial.

...e o doido do Rogério, já no segundo dia de aula (terá sido no primeiro?), tinha me convidado pra uns dois projetos mirabolantes diferentes :]

enquanto com a Flávia a coisa também caminhou rápido, embora sempre no tom calmo de ambos os envolvidos - isto é, sem a pilha do Rogério :]

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sei que me diverti muito com essas 7 figuras, os professores e outros tantos conhecidos e coadjuvantes que transitam pela UNIRIO.

[aliás, vários deles já tinham cruzado minha vida antes. hoje mesmo duas das pessoas que cumprimentei foram antigas colegas de teatro, o que me levou a refletir sobre como são realmente necessárias devoção e persistência na carreira artística.

é uma área dificílima, insegura e que sofre muito preconceito, não sendo nunca considerada como algo inteiramente integrado ao "mundo oficial".

meus amigos de profissões mais ortodoxas, mesmo aqueles de formação tardia, jamais estariam, a essa altura, cursando uma graduação, cujo diploma, em última instância, não só não é necessário ao trabalho, como não garante muito mais oportunidades.

penso que todas essas pessoas que encontro lá poderiam - como eu, aliás - estar muito mais estabelecidas no mundo formal, caso tivessem empregado tantos anos e energia num projeto de vida mais inserido na "oficialidade". boa parte delas é de pessoas criativas, com iniciativa e disposição.

há-que realmente se crer numa vocação. ou na necessidade da expressão artística.

ou... mais algum palpite? :]

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aliás, prova de devoção, e mesmo um exemplo capaz de instilar alguma esperança (!), foi o que nos proporcionou o Luiz Otávio Braga (violonista paraense professor de MIC), ao agendar para a última aula uma palestra com ninguém menos que Hermínio Bello de Carvalho.

o cara, pra quem não conhece (o que aliás é bem comum) é um personagem raríssimo: um articulador cultural, notadamente dedicado - há 51 anos! - à música brasileira (em geral, e ao samba e ao choro mais especificamente).

sua participação na história da música brasileira é tão vasta e variada, que eu nem me arriscaria a dar conta de descrevê-la aqui.

para exemplificar, ele lançou a Clementina de Jesus, produziu o antológico show de Jacob do Bandolim com Elizeth Cardoso, idealizou, fomentou ou dirigiu a produção de inúmeros discos, apresentou diversos artistas, ao público e entre si (como Sarah Vaughn a Milton Nascimento, por exemplo), além de ter sido um dos idealizadores da Escola Portátil de Música (centro de ensino de choro e instrumentos relacionados - sopros, percussão, cavaquinho, violão, violão de 7, etc.), que hoje da aulas - gratuitas! - para mais de 600 alunos... ufa!

ah sim! vale citar que ele criou e coordenou a primeira edição do Projeto Pixinguinha, nos anos 80. fora ter atuado como jornalista, na imprensa escrita e realizando documentários e especiais de música para a TVE e outras emissoras.

cara, é sério: a lista é realmente impressionante.

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...tão impressionante, que chega ao absurdo de quase ofuscar sua produção como letrista - simplesmente de alguns dos maiores clássicos de nosso cancioneiro.

a esta altura já dá pra saber que não estou exagerando, mas vamos lá: a listinha de parceiros do Hermínio inclui Pixinguinha, Villa-Lobos, Jacob do Bandolim...

com Cartola e Carlos Cachaça, fez Alvorada ("alvorada lá no morro, que beleza / ninguém chora, não há tristeza / ninguém sente dissabor"); com Chico Buarque, Chão de Esmeraldas ("me sinto pisando num chão de esmeraldas / quando levo meu coração à Mangueira"); com Paulinho da Viola (que aliás também lançou), fez Sei lá, Mangueira ("Mangueira, teu cenário é uma beleza / que a natureza criou") e Timoneiro ("não sou eu quem me navega / quem me navega é o mar")...

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pois bem; e a que se dedica, antes de mais nada, uma figura com esse currículo?

simples: a ficar conversando com as pessoas por aí, dizendo como fazer música é legal e possível e louvável e necessário, e como a música brasileira é incrível, e bolando novas maneiras e novos projetos pra que mais gente a conheça, a exerça, faça e propague mais e mais música boa - com ou sem a colaboração das instituições.

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e foi essa minha última tarde de aula no primeiro semestre da UNIRIO: ficar confortavelmente recostado numa das cadeiras acolchoadas da SAla Alberto Nepomuceno (um pequeno auditório refrigerado no prédio da música), ouvindo as seríissimas gaiatices do Hermínio Bello de Carvalho, na companhia de meus bem-humorados colegas.

é ou não para ficar de bom-humor também?

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[PS: pena que o Rogério não pôde estar conosco: num episódio tragicômico, ele torceu o pé ao correr para tirar um xerox, durante nosso trabalho de OM (a música experimental), e agora está engessado!

foi assim: ele não tinha dormido mais que duas horas, aqui no chão do quarto da Silvia, enquanto eu finalizava o trabalho; depois, fez uma prova de audição comentada de música Barroca (!); imaginem o estado do cara à uma da tarde...

daí, pouco antes da nossa vez de apresentar o trabalho eu falei: "ih, seria bom se distribuíssemos esta folha para todos. quem dá um corridão até o xerox?"

pois é: o Rogério levou a sério demais. voou porta afora com uma cópia da folha. e cinco minutos depois voltou, escorado por um cara, com trinta cópias na mão...

fiquei até culpado! talvez eu não devesse ter sido tão enfático :o

a Flávia foi buscar gelo. durante a apresentação o Rogério ficou sentado com um saquinho de gelo no tornozelo já inchado, trocando as transparências.

de lá, foi direto pro hospital, no táxi que a Flávia trouxe até dentro da UNIRIO (acho que não entram carros normalmente onde aquele táxi foi, pensei que não coubesse).

ele perdeu a palestra do Hermínio, mas já está se recuperando. vai tocar na Bunker nesta sexta - engessado -, e enquanto fica de molho, está editando as pistas do nosso trabalho; é claro, quer gravar mais duas músicas nos mesmo moldes, e lançar o cd! hahaha bem que eu disse que é preciso vocação :]

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BEM!

pra finalizar este breve post (será que o Thiago vai se arrepender de ter se queixado de que meus posts andavam muito curtos? :) , ouvindo um dos dois excelentes discos de Cartola para a Marcus Pereira discos, vou acrecentar imagens do making of do nosso trabalho de OM.

[se bem que, se depender do Rogério, vocês talvez possam ver essas fotos no encarte do cd... :]

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abraços paratodos!

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[aliás, vou publicar só uma, a título de ilustração; depois eu posto mais. beijos!]

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meu quarto é um ótimo estúdio mas... onde eu durmo agora?

:]

2 comentários:

missbutcher disse...

Sim, eu cheguei até o fim do post! Uau! Acho que esse nem foi dos mais longos, mas foi uma delícia ler as suas histórias de fim de período. Eu, mais do que todos, estou muito feliz com o seu bom-humor.
Não sei se ajudou, mas aquele dia no Manuel e Joaquim, antes d'eu e Tânia viajarmos, com a Andréa falando que também fez uma penca de faculdades, etc. e tal, foi emblemático, certamente. E acho que foi também para você. Boa sorte no segundo semestre. Ah, postei lá no "Desmedidas". Foi um post simbólico, mas você me fez me mexer.
;-)
E não viaje sem antes se despedir, rapaz. Estou com muitas saudades. Vamos marcar algo no fimde com o casal Kemper-Chirol?
Bjs

Anônimo disse...

*dimi!... q delícia!!
*ih, tá parecendo antigamente, qdo eu te ouvia contar muitas histórias dos seus amigos que um dia vc ia me apresentar! e apresentou; e deu em tanta coisa boa.
*pegaste os contatos no teu email- dos alemão?
*ih, a bel e tânia andaram viajando?! pra q paraíso dessa vez? meninas, me contem, por letra ou por imagem.
*e alemanha...?
*cara, ontem tive um dia mágico. q massa! queria contar... será q abro um blog? mas e as coisas mais reservadas?
*bj de capitão de areia