houve uma vez um leão

houve uma vez um leão
para L. Nilson e Gabriel G.G.


caminhava pela noite levando um buquê de leão.

de volta à casa, escrevi:
"caminhava pela noite
levando um buquê de leão."

buquê de leão? deve ser engano
pensou o revisor apressado
pôs-me nas mãos então um buquê
de dentes-de-leão (que nunca levei
e aliás nem sei como são)

(e não foram sequer dentes-de-leão
mas sim taráxacos, conforme lhe indicou
o dicionário online de botânica)

o tradutor francês, por sua vez
trabalhava ouvindo música
e me enfiou un bouquet des violettes
que o tradutor inglês
(por veleidade ou implicância)
prontamente replantou como lilies

a tradução cingalesa não comento
que de Sinhala não entendo uma pétala

mas decerto era bem insossa
visto que João Karragota
ao vertê-la de volta para o Português
descartou o original por completo
trocando meus versos por outros, de sua autoria
(muito bonitos, por sinal
mas que de leão não traziam
nem um pelo da cauda)

e assim se perdeu o leão pelo caminho
das palavras, depois de sem susto trilhar comigo
o da noite.

paciência, meu caro:
era mesmo demais esperar
que tua basta juba escapasse
ao fio cego da lâmina da tradução.

[saiba mais sobre João Karragota
o único tradutor Sinhala-Português do Brasil:

2 comentários:

thias leticia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lrp disse...

manja?: the lion for real http://famouspoetsandpoems.com/poets/allen_ginsberg/poems/8337