meu camarada paulista Rodolpho Xto (ilustrador, produtor da anárquica Pipa Musical e irmão da querida parceira Juliana Bertolini) postou o desenho abaixo em seu facebook, com a seguinte legenda: "Preguiça master de terminar isso..."
o que fez com que a cantora - e também ilustradora - Laura W. (por sua vez irmã, veja só, de outra amiga arr-tista, a cantora e mestra de yoga Helena Rosenthal) logo comentasse: "não termina. tá bom assim."
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tudo isso me fez matutar - sobre a obra de arte, o começo e o fim, essas coisinhas - e lembrei de um causo que vivi há muitos anos:
uma vez vi um cara pintando um quadro 'ao vivo', numa galeria aqui no Rio. era totalmente abstrato. daí o cara ia lá, super pollock, fumando um cigarro e tacando tinta sobre tinta sobre tinta sobre a tela, que estava no chão.
uma hora eu olhei e pensei 'nossa, tá pronto!' - só que o cara continuou a tacar tinta. e eu pensando: 'não, não! pare, o que você está fazendo?!' mas era tarde: o quadro de que eu gostei não existi(ri)a mais.
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noto agora que, curiosamente, Juliana e Helena - as supracitadas irmãs dos irmãos em questão - filmaram comigo uma videocanção que versa sobre o que acontece com o feito depois que o fazedor morre. ou sobre o que fica do fazedor no feito.
gente é um troço que nunca está pronto.
6 comentários:
Meu caro Dimitri: eu deixei este quadro respirar por algum tempo e ele ainda me pede pinceladas. A Laura já havia visto tal obra e expressou a mesma opinião aqui na presença. Ele está muito bonito, sim, mas ainda não está como eu quero. Talvez, quando eu o considerar pronto, esteja menos belo.
Gostei muito de você ter citado Pollock porque lembro que vi no filme sobre ele que levantavam a questão diretamente: e quando você sabe que está pronto? - no que ele respondia - E quando você sabe que terminou de fazer amor? Apesar de (ou Por causa de)"fazer amor" ser um termo bregão, guardei bem esta.
Abraço! Agradeço a postagem!
dimi... : )))
q bonito post...
,, e minha grande porcentagem budista ainda acrescentaria.. q tudo é efêmero mas q o feito "interior"do fazedor não se perde nunca,,a gente é q não lembra com clareza.mas alguma coisa lembra....quer dizer,,tem uns bem poucos ai q lembram tudo..
Foi uma delícia ler isto, meu caro.
Quantas vezes isto já não me aconteceu! Ao desenhar e ao ver os desenhos dos outros.
"Tudo que é sólido se dissolve no ar."
Um beijo,
Patrícia
XTO: não vi o filme do Pollock, mas li essa frase dele outro dia, por coincidência. mas achei uma resposta meio marota :] não acho que a comparação seja tão válida...
quanto ao teu quadro, acredito que ele esteja incompleto - especialmente porque você mo diz!
aliás, achei bonito isso de 'talvez ele esteja menos belo quando eu o considerar pronto'.
continuando a conversa lá no facebook, acabei concluindo algo parecido com a Ana Muniz (ilustradora & etc. e irmã da minha comparsa cantora Flávia): eu disse a ela que, talvez, não exista um ponto 'certo' para parar; e que portanto, caberia ao autor escolher em qual ponto 'errado' ele prefere interromper o trabalho.
(mas talvez essa minha resposta seja marota também ;)
de todo modo, eu é que agradeço por teu quadro ter motivado a reflexão!
haha Ju, querida, você bem sabe minhas opiniões a respeito - até já as cantou! ;]
mas teu papo me fez lembrar de um verso (da Lydia Lunch): 'blood is just memory without language'.
tem a ver, não?
Patrícia, minha cara: posso imaginá-lo! nossa, fiquei até aflito por ti agora, por todos dessas artes 'irrevogáveis'.
em música é bem mais fácil 'voltar atrás na criação'; isso é parte, aliás, da beleza da natureza imaterial, incorpórea, transitória e temporal da música.
"música / preciso tanto do teu corpo / sólida / preciso tanto do teu corpo de som"
beijo.
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