(im)possibilidades


adoro impossibilidades concretas.

aliás, creio que estas exercem um fascínio inerente sobre boa parte dos seres humanos, haja vista a grande aceitação que tem os desenhos do Escher, com seus ângulos e perspectivas absurdos, onde em cima é embaixo e dentro é fora.

talvez isso seja conseqüência da nossa vontade de que impossíveis aconteçam; quanto a mim, na verdade, acho que a primeira sedução dessas contradições concretizadas seja a diversão da quebra de expectativa, mesmo, e meu gosto de longa data pela engenhosidade.

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quando criança, eu adorava um velho livro chamado algo como "almanaque de objetos insólitos". eu e meu principal comparsa de invenções na época, Erik Kohler (que também foi, muito estranhamente, a primeira pessoa a cantar comigo num palco!) não apenas líamos o livro à exaustão, como criávamos nossos próprios objetos estapafúrdios, cuidadosamente registrados, descritos e ilustrados em papéis que o Erik guardava num álbum (o qual, ouvi dizer, ainda existe! cara, queria ver isso).

[alguns anos depois, descobri que outro amigo também tinha - e adorava - um raro exemplar desse velho livro: Tiago Saboga, que viria a ser um dos meus amigos mais próximos a partir da adolescência, após uma infância repleta de paralelismos, na qual a única coincidência que faltou foi mesmo a de nos conhecermos.]

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ao caro leitor que alcançou este ponto do texto, chegou a hora de confessar que não me lembro exatamente por que resolvi escrevê-lo (!?). tive essa idéia ontem/hoje, ao voltar pra casa umas 5h da manhã; já fiquei contente, portanto, de ter lembrado dela de todo. :P

achei que o tema permitia que eu escrevesse mesmo sem lembrar exatamente a razão. um nadinha de absurdo pode fazer maravilhas pelo nosso dia. :]

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mas de uma coisa lembro-me bem: queria postar dois dos meus exemplos favoritos de impossibilidades realizadas. estão em duas letras de canções, de artistas sem (quase) nenhuma relação um com o outro.

aí vão:

1. "i was 21 years when i wrote this song / i am 22 now, and i won't be for long"
[billy bragg, em sua canção-tema "new england"]

- afinal, qual a idade do eu-lírico billy??

2. "Essa parte do texto eu ainda estou maquinando / Tem que ser direto e epidêmico / Não esquecerei de mencionar os banqueiros americanos / César há de tremer / Viva México!"
[Fred 04 (do mundo livre s/a), em "desafiando roma"]

- certo, ele ainda está maquinando essa parte. é por isso que não estamos ouvindo ele cantar. ei, espera aí.

que acharam? se alguém lembrar de mais exemplos, diga aí! gostaria de compilá-los.

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em tempo: o objeto que ilustra este post, contrariando a impressão que possa dar ( :D ) não foi retirado do tal compêndio de objetos insólitos; trata-se de uma instrumento real, a harp-guitar. descobri este e muitos outros instrumentos bizarros e interessantes numa recente pesquisa motivada por uma consulta da Ana Sol.

essa foto aí foi tirada da wikipedia, mas a minha busca também me levou a conhecer este site ótimo, o Atlas of plucked instruments.

(de repente eu faço um post só sobre instrumentos escalafobéticos, outro dia desses.)

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abraços paratodos!

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