morrer com o violão na mão

"Meu ideal é morrer com o violão na mão"
[o meu, não, bem entendido; o dele aí na foto]

...


Se você tem um disco de samba gravado nos últimos 60 anos mais ou menos, dê uma olhada na ficha técnica: há uma grande probabilidade de constar lá o nome do Horondino José da Silva.

especialmente se o disco for bom.

se o disco for bom é quase certo ele estar lá - embora, é verdade, não com esse nome, mas sim com aquele em que ele e seu instrumento figuram, apropriadamente, como entidades indissociáveis:

Dino 7 Cordas.

porque Dino não foi um apenas um exímio instrumentista : ele definiu uma linguagem, uma escola de uso para um instrumento recém-criado.

depois de tocar violão de 6 cordas nas gravações de Pixingunha e Benedito Lacerda nos anos 40, Dino iniciou-se no 7 cordas na década de 50 e passou a desenhar, com o auxílio dos baixos suplementares, contrapontos semelhantes àqueles do sax de Pixinguinha.

daí em diante o samba e o choro nunca mais foram tocados da mesma maneira.

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eu toco violão de 6 cordas. e nem instrumentista sou, ao menos não por devoção.

mas eu ouço. antes de mais nada, eu ouço.

e aprecio. e aprendo, apreendo.

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infelizmente o Dino morreu ontem. estava velhinho, teve uma pneumonia.

mas eu e você pra sempre poderemos ouvir.

os discos do Paulinho da Viola.

os discos do Cartola na Marcus Pereira (com arranjos do Dino).

o som, que só existe no tempo, vai durar pra além do tempo de quem o criou. interessante paradoxo.

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mesmo assim eu fico triste. mas fico feliz de pensar que o Dino pôde tocar por tanto tempo assim, e mudar o mundo com a sua música.

com sua música, que quem quiser poderá ouvir hoje, agora mesmo, e ainda por um tempão.

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[biografia detalhada do Dino 7 Cordas e depoimentos de outros 7 cordas a respeito dele:

clique aqui.]

3 comentários:

Graziela Grise disse...

quero morrer numa batucada de bamba,
na cadência bonita do samba!

Anônimo disse...

Dino se foi e o que ficou fomos nós...
Mudados ou não pela sua música, caminhamos tentando nos mudar a cada dia.
Acredito que Dino esteja agora caminhando entre as estrelas como se fora um Cajueiro...
E nós todos a VER a música de seus pés e ouvindo o silêncio de sua partida.
A música e o silêncio estão hoje mais tristes.

Dimitri BR disse...

"Acredito que Dino esteja agora caminhando entre as estrelas como se fora um Cajueiro..."

:]

como é que as circunstâncias acabampor fazer com que uma frase absurda dessas seja perfeitamente provida de sentido?

bjo, Menor.